Após o término da Cúpula internacional da ONU, denominada Rio + 20, onde foram discutidas exaustivamente, tanto em reuniões de representantes governamentais, como em reuniões com representantes da sociedade civil, questões voltadas ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável do nosso planeta, já tão maltratado. Também foram debatidos aspectos voltados as grandes cidades (poluição, trânsito, uso da água, arborização, tratamento do lixo, violência, drogas, etc.) e a ecologia no geral, como as questões do desmatamento, do agronegócio, do aquecimento global e mudanças de temperatura na Terra, do consumo desenfreado dos países desenvolvidos, da poluição de rios e mares, da pesca predatória, da defesa dos povos da floresta, do trabalho infantil, da violência contra as minorias e contra as mulheres, enfim, temas diversificados e complementares, e que no final da Cúpula resultaram num documento com conclusões e intenções muito criticado por alguns países mais pobres que se sentiram preteridos em suas propostas, e pelas entidades representativas como a WWF ou o Greenpeace, pois não foram formuladas ações efetivas e planejadas, apontando as responsabilidades dos países mais desenvolvidos, com seu consumo desenfreado, para alterar as condições de destruição do nosso planeta.
Dessa forma, a Rio+ 20 acabou suscitando algumas reflexões acerca da preservação ambiental da nossa capital sergipana (considerada por alguns a capital da qualidade de vida!), e do nosso Estado como um todo. Questões tais como: existe planejamento quanto a arborização da nossa cidade? E a preservação dos nossos rios e mananciais? E a poluição devido ao excesso de monóxido de carbono expelido por carros, motos e ônibus? E o tratamento do nosso lixo? Enfim, questões fundamentais que deveriam ser alavancadas pelos gestores públicos e discutidas de forma mais ampla com toda a sociedade, e expressas em termos de planejamento urbano no nosso futuro Plano Diretor de Aracaju, assim como das nossas cidades interioranas, que me parece, sequer foi levantada tal discussão nas Câmaras de Vereadores e Prefeituras nos 74 municípios restantes do nosso Estado.
Especificamente tocando na questão da arborização, Aracaju foi considerada pelo IBGE uma das piores nesse quesito. Por exemplo, agora com a construção do viaduto que vai do Bairro Inácio Barbosa para o Conjunto Augusto Franco, as dezenas de árvores da Avenida Paulo VI, e suas respectivas amplas calçadas, serão literalmente arrancadas em nome da mobilidade urbana. Ou seja, questiona-se se nesse projeto, pouco discutido com aquela comunidade, se existe um projeto paralelo para o replantio dessas árvores, minimizando assim o impacto ambiental naquele bairro?
E em nossas praças e avenidas, assim como nos novos condomínios que surgem do dia para a noite em nossa cidade, existe um efetivo controle legal para o plantio ou replantio de espécies vegetais nativas da região nordestina? E a preservação dos nossos manguezais é de fato protegida por leis específicas, com a necessária fiscalização do poder público? E quando é o próprio poder público municipal ou estadual que cometem os abusos ambientais a todo instante em nossa cidade, como fica? Quem paga por isso? A quem recorrer? Ao IBAMA, a ADEMA?
Lembro também de um fato histórico significativo em termos de impacto ambiental, e que se deu durante o Segundo Império, quando nosso então Imperador Dom Pedro II, demonstrando estar à frente do seu tempo, mandou replantar a Floresta da Tijuca no local onde estavam fazendas de café e cana de açúcar. O resultado dessa visão ecológica do Imperador foi que hoje o Rio de Janeiro tem no interior da cidade a maior floresta urbana do planeta, além da manutenção de importantes mananciais de água para a cidade. Imaginem vocês leitores, se hoje, o Rio de Janeiro não tivesse a “proteção” dessa floresta em termos de qualidade de vida para os seus moradores?
Tal reflexão nos remetem as atuais condições precárias de arborização e outros aspectos ecológicos das nossas cidades em Sergipe. Por exemplo, como Aracaju estará daqui a dez anos sem um replantio e/ou a ampliação das árvores dentro do tecido urbano? Sabemos que estudiosos e pesquisadores da UFS e outras universidades brasileiras já pensam e planejam seriamente sobre esse tema. Acredito que nossos governantes devam aproveitar tais pesquisas e repensar e planejarem urgentemente ações de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade da nossa cidade. Ações que devam começar pela educação nas escolas, em nossas universidades, em nossos lares, formando nossos jovens dentro de um novo paradigma ecológico, de preservação, de sustentabilidade e de planejamento urbano. Toda essa reflexão é fundamental para que essa mudança cultural ocorra em nossa população. Por fim, a criação de um Plano Diretor para a capital (e para os municípios do interior), bem discutido e elaborado em suas várias esferas, poderá ajudar enormemente nesse planejamento, controle e fiscalização de ações públicas no âmbito da ecologia urbana.
*Professor Doutor em Psicologia da Educação da
UFS, membro do Conselho de Ensino e Pesquisa (CONEPE) da UFS e membro do Núcleo
de Estudos Interdisciplinares em Administração Pública – NEIAP da UFS.
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